04 de Novembro de 2025
Saúde masculina em foco: porque o check-up também é coisa de homem
O José sempre foi o “homem forte” na família. Trabalhava longas horas, raramente fazia pausas, e quando o cansaço apertava, tomava um analgésico e seguia em frente. Foi só quando começou a sentir dificuldade para urinar e dores na região lombar que resolveu procurar um médico e o diagnóstico trouxe-lhe uma verdade incómoda: problemas na próstata.
A história de José não é exceção: muitos homens ignoram os sinais, adiam consultas e carregam o peso de uma cultura que associa procurar cuidados à fraqueza. Em novembro, com a cor azul a iluminar monumentos e campanhas, é hora de virar o jogo. Cuidar da saúde masculina não é opção: é obrigação com o futuro.
Porque é que o Novembro Azul existe - e porque ainda é necessário
O conceito de “Novembro Azul” surgiu no movimento Movember na Austrália, em 2003, quando um grupo de amigos decidiu deixar crescer o bigode para chamar atenção à saúde masculina. (SciELO) Com o tempo, transformou-se numa campanha global para alertar sobre o cancro da próstata e outros cuidados que os homens costumam negligenciar. (Lab in the box)
Apesar dos avanços, ainda há muitos obstáculos:
- Tabus culturais: muitos homens sentem vergonha ou vulnerabilidade ao procurar médico. (Seven Publicações)
- Desinformação: o rastreio do cancro da próstata é controverso. Algumas pesquisas apontam para benefícios, outras para riscos de “overdiagnosis” e intervenções desnecessárias. (SciELO)
- Resistência ao autocuidado: hábitos prejudiciais como sedentarismo, consumo de álcool, má alimentação e pouca atenção à saúde mental são comuns.
A campanha Novembro Azul tenta derrubar esses muros e lembra que ser homem também é cuidar de si.
Fora os mitos: o que dizem os estudos
1. O cancro da próstata é muito silencioso
É uma doença com evolução lenta na maior parte dos casos. Muitos tumores não provocam sintomas até estarem avançados. Especialistas chamam-na de “doença silenciosa”. (evitacancro.org)
2. O exame PSA sozinho não é solução
O PSA (antígeno prostático específico) é amplamente usado, mas deve ser interpretado com cautela, considerando fatores como idade, histórico familiar, variações pessoais, e outras causas benignas que elevam o valor. (SciELO) Um artigo da SciELO discute que o PSA isolado tem limitações, o que exige abordagem multidimensional. (SciELO)
3. Rastrear demais pode trazer mais mal que bem
Alguns estudos apontam que rastreio indiscriminado pode levar a diagnósticos de tumores que jamais seriam agressivos, resultando em intervenções desnecessárias, efeitos colaterais e prejuízo na qualidade de vida. (SciELO) Esse debate é bem explorado na revisão “A not‑so‑blue November” sobre os limites da prevenção. (SciELO)
4. A prevenção vai além da próstata
Além do cancro da próstata, a saúde masculina envolve:
- Doenças cardiovasculares
- Diabetes
- Saúde hormonal
- Saúde mental
- Função renal, hepática e metabólica
Ou seja, o check-up masculino precisa de ser integral.
Quais os exames que todo o homem deveria conversar com o médico
Em vez de estabelecer uma única fórmula, é melhor partir de diálogo e avaliação personalizada. Há, no entanto, exames que geralmente são relevantes:
- PSA + toque retal (em consulta médica, considerando riscos e benefícios)
- Perfil lipídico (colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos)
- Glicemia de jejum / HbA1c
- Função renal e hepática
- TSH / hormonas da tiroide
- Eletrocardiograma / avaliação cardiovascular (risco de doença cardíaca)
- Avaliação da testosterona (em casos com sinais de déficit hormonal)
- Avaliação de saúde mental (depender apenas da parte física é falha comum)
A periodicidade varia com a idade, os fatores de risco e histórico familiar.
Onde dói de verdade: impactos na vida real
- Muitos homens relatam desconforto urinário (jato fraco, urgência, micção frequente) sem procurar ajuda até que o sintoma seja grave.
- A disfunção erétil, muitas vezes associada a condições metabólicas ou vasculares, é subnotificada por constrangimento.
- Cirurgias ou tratamentos agressivos para a próstata podem provocar incontinência ou impactos sexuais — razão pela qual conhecer riscos e benefícios é essencial.
Essas dores são físicas, emocionais e sociais. Elas afetam relacionamentos, autoestima e bem-estar.
Como vencer a resistência: estratégias para cuidar de si
- Conversa aberta: dialogar com amigos, colegas ou familiares pode desconstruir tabus.
- Agendar uma consulta preventiva: só marcar já é meio caminho andado.
- Procurar médico de confiança: sentir segurança para expressar receios.
- Educação continuada: conhecer sinais, esclarecer dúvidas e exigir informação clara.
- Adotar hábitos saudáveis: alimentação rica, atividade física, controlo do peso, parar de fumar e reduzir álcool
- Cuidar da saúde mental: stress, depressão, ansiedade também fazem parte da equação.
Mensagem final: cuidar não diminui, fortalece
O José virou defensor de cuidados regulares entre os seus amigos após enfrentar o diagnóstico. Ele aprendeu da forma difícil: “vou ao médico, sim, antes que seja tarde demais”.
No contexto do Novembro Azul, a campanha azulada nas cidades reflete algo maior: a urgência de mudar atitudes culturais, de reconstruir o sentido de masculinidade que insiste em silenciar a dor. O check-up masculino é um ato de coragem, responsabilidade e amor-próprio.
Se está a ler este artigo, marque já a sua consulta. Faça os exames. Cuide de si. Porque homens também têm direito à saúde plena.
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