“Está tudo bem.” Mas estava mesmo?
Marta, 42 anos, era a pessoa que todos viam como forte. No trabalho, era eficiente; em casa, presente para os filhos; nas redes sociais, sempre com um sorriso. No entanto, há semanas que sentia o peito apertado, dormia mal, e as decisões mais simples pareciam um desafio gigante.
Pensava que era apenas cansaço ou stress. Foi numa consulta de rotina que ouviu pela primeira vez: “Pode estar a sofrer de ansiedade.”
Como Marta, muitas pessoas vivem com ansiedade disfarçada, sem saber que os sintomas físicos e emocionais não são apenas “parte da vida”, mas sinais de alarme do corpo e da mente.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, os transtornos de ansiedade afetam mais de 300 milhões de pessoas no mundo. Muitas não recebem diagnóstico porque os sintomas são mal compreendidos ou escondidos.
O que é a ansiedade disfarçada?
A ansiedade não surge sempre como um ataque de pânico ou nervosismo visível. Muitas vezes, manifesta-se de forma silenciosa, através de comportamentos socialmente aceites, como produtividade excessiva, perfeccionismo ou sintomas físicos recorrentes.
É o que os psicólogos chamam de ansiedade de alto funcionamento - pessoas que parecem calmas, bem-sucedidas e sociáveis, mas que por dentro vivem em constante preocupação, medo e sobrecarga mental.
Sintomas silenciosos que não devemos ignorar
A ansiedade tem muitas formas. Saber reconhecer os sinais mais subtis pode evitar o agravamento e proteger a saúde mental:
- Pensar demais, até nas decisões mais simples
- Sensação de inquietação constante
- Necessidade frequente de validação ou garantia
- Sintomas físicos como problemas intestinais, aperto no peito, constipações recorrentes
- Perfeccionismo e medo de falhar
- Irritabilidade ou alterações de humor súbitas
- Cansaço crónico, mesmo após uma boa noite de sono
*Um estudo publicado no British Journal of Psychiatry revelou que mais de 60% das pessoas com ansiedade procuram primeiro ajuda médica para sintomas físicos - não emocionais.*
Quem corre mais risco?
A ansiedade disfarçada pode afetar qualquer pessoa, mas há grupos mais vulneráveis:
- Mulheres entre os 30 e 50 anos, que acumulam múltiplos papéis (mãe, profissional, cuidadora)
- Perfecionistas e pessoas com elevado sentido de responsabilidade
- Pessoas com historial de trauma ou stress prolongado na infância
- Profissionais de saúde e cuidadores, constantemente a cuidar dos outros
As redes sociais e a pressão cultural para “dar conta de tudo” muitas vezes agravam o problema, levando à ocultação prolongada dos sintomas.
Como lidar com a ansiedade disfarçada?
O primeiro passo é o reconhecimento. Ao nomear a ansiedade, ela deixa de ser um peso invisível e torna-se algo com que se pode trabalhar.
🧠 1. Ouça o seu corpo
Dores de cabeça, tensão muscular ou problemas intestinais recorrentes podem ser sinais de alerta, não apenas “coincidências”.
💬 2. Fale com alguém de confiança
Quer seja um terapeuta, médico ou amigo próximo — verbalizar o que sente é um passo essencial.
📵 3. Faça pausas digitais
Comparações constantes nas redes alimentam a ansiedade. Desconecte-se. Caminhe. Respire sem ecrãs.
🧘♀️ 4. Use técnicas de autorregulação
Mindfulness, journaling (escrita emocional) e respiração consciente ajudam a acalmar a mente acelerada.
💊 5. Procure ajuda profissional
Não há fraqueza em pedir ajuda. Terapia ou medicação, quando indicadas, são ferramentas poderosas de transformação.
A viragem de Marta: de silêncio a equilíbrio
Após o diagnóstico, Marta iniciou acompanhamento psicológico. Passou a impor pequenos limites no trabalho e em casa. As enxaquecas diminuíram, as noites tornaram-se mais tranquilas, e - talvez pela primeira vez em anos - sentiu-se leve por dentro.
“Não sou fraca”, diz hoje. “Só não sabia o quanto estava a carregar tudo sozinha.”
Conclusão: não espere que grite
A ansiedade disfarçada sussurra. Manifesta-se em cansaço, tensão, perfeccionismo e sobrecarga. Mas não precisa de gritar para merecer atenção.
Se se revê nestes sinais, não os ignore. A ansiedade é comum. E é tratável.
Não está sozinho. E não tens de fingir mais.
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